segunda-feira, 19 de setembro de 2011

TÃO PERTO, TÃO DISTANTE

Noite sem dormir e uma dor que dilacerava qualquer chance de um sono pacato.  Virei para um lado, para o outro, de cabeça para baixo: em vão. Busquei por você: apesar de estar lá, não veio ao meu encontro. As horas se passaram, a dor se intensificou: latente, latejante. E eu contemplava você ali, adormecido, com o corpo encaixado de um jeito cômodo. Ensaiei chorar, berrar, infernizar sua noite para que sentisse exatamente o que eu estava sentindo: solidão pontiaguda, sufocante. Isolamento que arranhava, com garras afiadas, cada porção da pele que você tanto ama.  O que aconteceu com todo aquele carinho, todo aquele cuidar, querer bem? Onde estavam as suas mãos, o seu corpo ardente para me aquecer do frio que penetrava cada célula e cada pensamento? A poucos centímetros de mim, mas se recusavam a oferecer qualquer abrigo. Se a situação fosse como de outrora, em que te dei  calor, saliva, suor e deleite, estaria tão indiferente como agora? Ou estaria bebendo de mim cada gota, sorvendo cada momento?
A manhã chega, petulante, presunçosa: acha que eu a evoquei. E então você desperta sem muito querer, me toca com  displicência, permitindo que eu desfrute das migalhas de afeto que resolveu me dar por benevolência. Se levanta, vai embora e deixa uma lacuna: a cama vácua. Foi o suficiente para você.


por Bárbara Caldeira

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