segunda-feira, 4 de junho de 2012

SOBRE IMAGENS, SONS E LACUNAS






Perdidos em um cenário em que sons, imagens e outros apelos competem para ver quem leva vantagem, comumente escolhemos a alternativa mais fácil ou mais cômoda: observar tudo superficialmente. Não sei se é impressão minha, mas tenho notado que muitas vezes tratamos de forma leviana o que foi construído com uma proposta incrível e “endeusamos” outras carentes de embasamento, mas bonitinhas. 


Não estou dizendo aqui que o certo é empreender uma busca incessante para achar sentido para tudo, mesmo porque eu não acredito no certo. Muitas vezes o mais gostoso é receber um convite para a interpretação. Uma imagem ou uma música podem até carregar o fio condutor para um significado compartilhado, mas o entendimento é individual e exclusivo. Que ótimo! Dessa forma tudo fica mais incrível justamente pela diversidade, não é? Mas, então, porque diabos insistimos em ver apenas o queremos ver? Porque não nos permitimos ver além, pensar fora da caixa?


Quando eu fico matutando sobre isso uma comparação me vem à cabeça. Tenho uma cachorra chamada Kira. Como praticamente todo mundo, falo com voz empolgada e carinhosa quando está tudo bem e em tom grave e seco quando preciso dar uma bronca. Então faço hora com a cara dela: xingo com o tom de voz e gestos carinhosos e elogio com postura de quem está xingando. O que acontece? Pouco importa o conteúdo do que eu estou falando. Ela se atém apenas à aparência do que está acontecendo. Está condicionada.


Eu não me sinto diferente da Kira. Acredito que praticamente todas as pessoas não são. Relevamos a mensagem a segundo plano e nos apegamos ao apelo imagético, fonético (é isso mesmo, produção?) ou qualquer um que seja. E aquela música que você canta, canta e nunca parou para analisar a letra? Ou um símbolo que virou modinha e você usa em tudo quanto é roupa-sapato-facebook-o-escambal e que se esqueceu de refletir sobre o que ele quer dizer? 


Com a fotografia – tinha que falar da danada em algum lugar, né? – não é diferente. Aquela que é bem feita tem uma proposta. Tem uma energia. Tem um chamado. Pede interação. Foi feita com técnica, com cuidado e atenção aos detalhes. Não importa de qual tipo é, até as mais espontâneas são arquitetadas. Aí vira sacanagem quando, no ápice desse processo, momento no qual aquele que a vê deveria completar as lacunas para torná-la fantasticamente individual, rola uma preguiça. Um chute na cara da pobre coitada.


Felizmente esse quadro pode ser diferente para quem se propuser a escolher o outro caminho. Pensar no “como”, no “porque”, no “para que” ou arriscar qualquer outra perguntinha vale a pena. Divagar sem ter limites ou se censurar vale a pena. Pensar sobre qualquer coisa vale a pena. Ou o sorriso na foto sempre será alegria, uma lágrima sempre será tristeza ou a beleza sempre estará exclusivamente no que for agradável aos sentidos.

por Bárbara Caldeira


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