Mas, confesso, não contava com a obsessão sombria que você desenvolveu. Um hábito degradante – para mim e para você, não se engane – de blindar as minhas palavras. De ser leviano o suficiente para fingir que não está nem aí. É chato. Sei que gosta disso, posso até visualizar o que se passa nesses emaranhados perversos e torpes que são seus pensamentos. Você se orgulha de parecer coerente, de parecer de convincente, de parecer comum. Eu me orgulho de saber que você é muito ego pra pouca casca.
Consegui também meus próprios escudos, se isso acaso possa lhe interessar. No começo deixei passar – foi descuido. Erro meu, egoísmo seu. Contrária ao que é corriqueiro no seu universo, tenho verdadeira repulsa da forma como você ignorava qualquer tentativa de avanço. Um passo para frente, dois para trás. Sério, por que ser tão previsível assim?
Depois que detectei o que simplesmente negava na tentativa absurda de te fazer bem melhor do que você é, estou pronta. Realmente pronta para subverter e atacar tudo o que parece real para você. Abalo seu mundo, abalo as convicções de alguém com ínfima capacidade de ir além da ligação de dois pontos. Sim, eu sinto desprezo. Mas eu sou capaz de simular a mais efervescente vontade e cravar momentos na sua memória só pra ver sua desilusão no final.
por Bárbara Caldeira